Discute-se o Orçamento do Estado, discute-se o défice público, discute-se o défice "estrutural", discute-se o "défice excessivo", discutem-se contas, modelos, estimativas sobre o défice público. E já está tudo aceite por todos, claro. Mais coisa menos coisa. Mas não se discute algo tão ou mais importante: o aumento do défice externo, que a retoma económica provocará. É espantoso como numa era cada vez mais global ainda se possa pensar que uma economia se consegue gerir através de um Orçamento de Estado. Claro, os elefantes são caçados com fisga. E as contas externas? Mais crescimento, que vem aí, levará a mais entrada de capitais, a mais importações não cabalmente compensadas por mais exportações. Mas esta parte da gestão macroeconómica não cabe ao Governo nacional controlar, porque não o consegue, cabe ao BCE, ao sistema de bancos centrais e às restantes instituições europeias. Todavia, quanto ao papel dessas instâncias o silêncio é sempre de ouro - a evitar toda e qualquer discussão desde 1992. Está tudo na mesma, portanto. Mas há um lado positivo. Na verdade, o Governo retirou protagonismo ao Orçamento, o ministro das Finanças, que sabe de economia, já não é de Estado, nem segunda figura, tal como, aliás, na Europa avançada, e da Presidência da República já não vêm pressões de um perito em Finanças Públicas que insiste, há anos, em pouco ou nada saber de economia.
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