Às tantas, sem saber ler nem escrever, dei por mim a ter os media como um dos alvos da crítica à situação do país. E a coisa não é injusta. Afinal, foram eles - no geral - os responsáveis pela popularidade do Memorando de Entendimento da troika; foram eles que seguiram em imagens e comentários elogiosos os passos desses funcionários ignorantes da economia portuguesa; foram eles que não estranharem que estivessem instalados no Ritz, onde Ricardo Salgado tomava o pequeno almoço; foram eles que deram voz aos banqueiros pouco anarquistas; foram eles que apoiaram Cavaco Silva nos 50 dias de inércia. Entre muitos outros exemplos. E são eles que o continuam a fazer o mesmo, com capas, com as opiniões, com fotografias, com reportagens, com encontros, com conferências. Agora, os mais poderosos já escolheram um candidato à presidência, Rebelo de Sousa, e já optaram pela "necessidade" de eleições antecipadas. Quando há um problema, há comentários e os comentários são coordenados para um dos lados do problema. Todavia, no meio desses media, há jornalistas de qualidade que não podem fazer convenientemente o seu trabalho porque estão onde estão e porque a situação do sector é muito difícil. Sem ser preciso dizer nomes de pessoas, quem veja a SIC, a TVI, a RTP, os respectivos canais de cabo, quem leia o "Expresso", o "Jornal de Negócios" - o "Público" não precisa de entrar nesta lista, porque se mantém equilibrado -, entre outros, sabe quem são os bons jornalistas, fiéis aos princípios do bom jornalismo, e quem são aqueles que estão a seguir uma agenda política. E sabe ou pode saber que os cursos de jornalismo e comunicação social continuam a atrair estudantes de craveira média e superior, e que há grande qualidade entre os jornalistas mais novos. Este problema não é só luso, evidentemente, mas por cá não está a ser olhado com a devida atenção. No passado, num passado algo longínquo, a Gulbenkian, por exemplo, preocupava-se com problemas destes e tentava ajudar, sem cordões atados, como poucas fundações o sabem fazer. Talvez fosse tempo de olhar para a situação do jornalismo em Portugal, com prémios, incentivos, bolsas (mais conferências, não). Outros podiam ajudar, sempre sem cordões. Belmiro de Azevedo, com o jornal de que é dono, é preciso reconhecê-lo, dá um exemplo silencioso e ímpar, sem deixar de ter uma opinião diferente sobre as coisas. Enquanto nada acontece, prestemos homenagem aos bons jornalistas que continuam a fazer o seu trabalho num meio que, esse sim, precisa de uma profunda "reforma estrutural".
PS: Há uns dias, o "Público" foi criticado nas "redes" por ter uma capa inteira com Rebelo de Sousa. Era preciso esperar, claro. Passados uns dias, teve Belém na capa e, caso o Carmo e a Trindade não caiam, terá em breve uma com Nóvoa. Isto é jornalismo, seleccionar para informar. O contrário do mau serviço que as televisões fizeram aos debates.
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