São vários os fenómenos estranhos vistos ultimamente, não necessariamente pela ordem que se segue. Primeiro, Passos Coelho, com grande calma, disse que este era o tempo de deixar o Partido Socialista governar. A seguir, Rebelo de Sousa defendeu o Serviço Nacional de Saúde. Depois, um famoso colunista com uma história de distância inteligente, defendeu numa só crónica Passos Coelho e o jornal online que mais o guiou no poder. Agora, Portas anuncia a saída. Pelo meio, deu-se o escândalo da associação de um canal de televisão à derrocada de um banco, com consequências directas no erário público e no actual Governo. E o ainda Presidente silenciou-se disciplinado. O que se passa? Com tudo tão calmo, os bastidores estão seguramente a arder. Se a acção está nesse plano, então, em democracia, somos tão livres de especular, quanto obrigados a fazê-lo. Os factos podem estar errados, mas o raciocínio talvez não. Vejamos. Passos deve ficar onde está, porque será lá que servirá para alguma coisa. Os donos do tal jornal online continuarão descansados com os milhões que lá puseram e os voluntários podem continuar a trabalhar para a causa. A televisão do PSD e a que recentemente estragou todo um capital de independência, levando o espírito Big Brother à informação (e com isso contaminando o respectivo canal de cabo), prosseguirão com a campanha "baratinha" de Sousa. E Portas? Passará para o comentário dominical televisivo, ajudando Sousa na sua campanha e depois a ideia de que devemos ter eleições antecipadas? O que quer que se esteja a passar, Costa não ganha em jogar com armas destas. Resta-lhe a boa alternativa da união e da preparação para eventuais eleições que é, como se viu recentemente, o que vale mesmo. Claro que a enorme depreciação política que a União Europeia teve nestes últimos anos não tem ajudado muito. Mas a democracia portuguesa é pelo menos tão subsidiária da história pátria, quanto da história europeia. Portugal tem bons pergaminhos democráticos, que é preciso valorizar. Não o contrário. Era bom que todos os protagonistas dessem sinais claros de que concordam com isso. Incluindo os da tal Direita de que tanto se tem falado. Enfim, pouco se passa - por enquanto.
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