O anúncio da venda da TAP pelo actual Governo acrescenta leitura. Em primeiro lugar, confirma-se a ideia de que as vendas podem ser feitas a qualquer preço, de tal forma que o Governo não se preocupa em dizer que tem pressa ou em desvalorizar o que está a vender. Já fora assim, por exemplo, com o BPN - recordemo-nos. Em segundo lugar, trata-se mais uma vez de uma questão política e não financeira. No dia em que o anúncio foi feito, o não-ministro do Governo responsável pela operação já estava num programa de debate a ser tratado com pinças. Em terceiro lugar, e a propósito, as vendas já não são da responsabilidade dos governantes graúdos, mas dos ajudantes, como chamou Cavaco aos secretários de Estado. Em quarto lugar, houve claramente um comprador arranjado pelo Governo, não se sabe bem a troco de quê, mas seguramente de algo. Em quinto, o Administrador ou responsável pelo buraco causado na empresa, nela fica, de pedra e cal. Em sexto e seguramente não último lugar, Cavaco veio mais uma vez mostrar serviço de primeiro-ministro paralelo. Mas a venda não está feita, ao contrário do que às vezes se pode ler nos jornais. Ela pode ser revertida. Mas, será? E há duas coisas novas. Uma foi a notícia em que o resultado da venda foi apresentado, sem sombras, como tendo envolvido contenda entre escritórios de advogados. E escritórios em que os protagonistas são simultaneamente advogados interessados no caso, altos funcionários de partidos e comentadores nas televisões. E um deles é do PS. Costa vai mudar isso? Vai separar as águas? Precisamos de saber. A outra é que se confirma que há pessoas - veja-se, eleitores - que não se importem que as coisas do Estado sejam mal geridas de propósito. Caso contrário, Passos teria interrompido a venda. A confirmação de que estas pessoas existem e que o seu voto está a ser contado é o pior sinal da democracia portuguesa. Afinal, o problema somos nós, os eleitores, e não eles, os políticos. Como mudar isso? Não será fácil, até porque os fazedores de opinião, dos media em dificuldades, aos "comentadores" engajados, não estão a ajudar nada. Com raras excepções, claro, mas raras. E a grande pergunta final será saber para onde vai depois o grande facilitador de negócios privados que foi parar ao Governo e a quem coube "vender" a TAP. Seguramente que já tem vários convites na calha.
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