Há pessoas cultas, inteligentes, bem-intencionadas, viajadas, de espírito aberto, que acham que um "ajustamento" - isto é, uma quebra do PIB - de 20 ou 30%, num país desenvolvido da União Europeia, é algo perfeitamente natural e até redentor, embora custoso, abrindo portas para uma sociedade mais justa e equilibrada e uma economia mais dinâmica. Isso porque, entre outras coisas, o "país" viveu acima das suas possibilidades e investiu demasiado em bens não-transaccionáveis e auto-estradas. Esta linha de pensamento é imune a qualquer aritmética, a qualquer conta sobre o peso das infra-estruturas, a qualquer explicação sobre "transaccionáveis". Mesmo depois do outro grande mito, o das "gorduras do Estado", ter sido totalmente, cabalmente, desfeito. E imune a qualquer narrativa sobre o passado da mesma ideia e das suas consequências políticas. Como há muita gente que, intuitivamente, olhando para as suas próprias vidas, sabe que isso não é assim, não nos admiremos que 25% das pessoas em Portugal votem em partidos no extremo da esquerda. Isto já não vai lá com argumentos. Só irá com o tempo, mas nem toda a gente tem paciência, ou com outra grande manifestação - que não acontecerá. Ou então com a "Europa" onde, obviamente, essa ideia do ajustamento sem limites não tem nem um décimo da adesão. Enfim, quase que apetece arrumar as botas, que a razão já tem pouco a ver com o que se passa e vai passar.
Comments
You can follow this conversation by subscribing to the comment feed for this post.