Bastaria olhar para o nível de desemprego para se perceber que as coisas estão mal, muito mal. E melhor ainda se perceberia se se tivesse em conta quanto desse desemprego é para ficar e que uma grande parte dele não só não tem qualquer apoio financeiro, como está virtualmente abandonado em relação à formação. Mas olhar para o desemprego é, para muitos, socialismo. Por isso, é preciso encontrar outros argumentos para convencer os mais cépticos da necessidade de mudança rápida. Olhemos então para a rapidez do chamado ajustamento e para os efeitos mais importantes. Esta perspectiva é nova, embora já esperada, uma vez que só agora temos os dados para o crescimento e os défices relativos a 2012. No quadro junto podemos retirar algumas conclusões muito simples quanto à dureza do ajustamento português, comparado com os demais países da periferia (e o RU), e quanto aos resultados. Na parte A do quadro, podemos ver que Portugal teve o segundo pior ritmo de crescimento do PIB, em 2011 e 2012, a seguir ao da Grécia. Na parte B, podemos ver que, em 2011, Portugal teve uma redução significativa do défice, mas que em 2012 a redução foi praticamente nula, o que implica que a relação entre redução do défice e do crescimento é a pior de todos os países indicados no quadro. Podemos ainda ver, na parte C, que Portugal teve o maior aumento da dívida em percentagem do PIB. E, finalmente, na parte D, podemos ver a enorme dimensão do ajustamento externo, entre 2012 e 2011 e entre 2011 e 2010 (não foi ainda possível encontrar dados comparativos para 2012). Será porventura necessária alguma intuição macroeconómica para se perceber a gravidade e amplitude destas comparações, o que muita gente já terá. Os principais responsáveis sabem bem ver estes números, e não é o que esperavam, quanto ao crescimento e quanto à evolução do défice e da dívida pública. Vale a pena insistir nos erros de previsão do que aconteceu, uma vez que os mesmos argumentos estão a ser utilizados para se fazer igual caminho, em 2013. O que não vale mesmo a pena é prosseguir no debate sobre a existência de alternativas, pois isso já há muito que se percebeu que é falacioso. Pode é não haver, neste momento, vontade ou força política para a seguir e isso precisa de ser mudado. E é até possível que a Europa, carente como está de boas notícias, receberia bem uma nova política em Portugal, que traduzisse as mudanças que se estão já a fazer sentir a nível internacional. Gostaria de ter tido mais tempo para este exercício, que assim é menos preciso, mas aqui fica para poder ser eventualmente melhorado.
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