O post anterior a este era um bocado ingénuo. Claro que em Portugal não vai deixar de haver preocupação por cuidar de quem precisa, desde os reformados aos doentes. Esse é precisamente o fulcro da questão, uma vez que tais preocupações são fonte de grande procura de serviços, de um grande mercado. Se partimos do pressuposto de que tudo o que o Governo faz é 10% ideologia e 90% interesses, ficamos mais alertas para os seus objectivos e podemos chegar à conclusão de que se quer dar os clientes a particulares para estes lhes venderem serviços. Uma outra forma óbvia de PPP - e de rendas. Se nos recordarmos ainda que as PPP nasceram com Thatcher, mais ainda percebemos que elas estão, ao contrário do que tanto propagam, no sangue de quem manda presentemente no Estado. Depois das estradas, pontes e alguns comboios, passamos agora ao que ainda muito pode dar: o fornecimento privado de serviços sociais. Tudo isto seria muito bonito se não houvesse aqui uma gigantesca mentira, a saber, que os privados fornecem esses serviços melhor do que o sector público. Essa não é a história dos EUA, onde os gastos em saúde, em percentagem do PIB, são os maiores da OCDE. Claro que para jogar este jogo não é preciso rever a Constituição e claro que se pode tentar apelar ao PS, que já deu mostras no passado de gostar de PPPs. Este partido deve ser o mais anti-PPP possível, nos próximos tempos para, no futuro, fazer a transição para um bocado mais de privados nos serviços sociais de outra forma, em que as instituições envolvidas não sejam apenas os bancos, mas também sindicatos ou associações mutualistas, como se faz na civilizada Europa do Norte. O desejo de entregar rendas e fazer PPPs não é mais do que um sintoma de um Estado enfraquecido pela crise que nos atravessa e pelo modelo político inventado em Bruxelas e Berlim para supostamente a enfrentar. O resto é conversa de embalar.
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