A deformação profissional obriga a uma coisa: não largar o osso até se perceber o fundo da questão. Na investigação universitária, isso é feito em cima das nossas mesas de trabalho, em trocas de emails, em textos provisórios de circulação limitada, em discussões entre colegas, e só quando se encontra o fundo da questão se pode tentar a publicação. Este blogue, ao contrário, vai explorando temas mais ao menos ao vivo e por isso às vezes deve cansar os leitores com coisas que podem parecer absurdas ou ligeiras. E uma delas é a tentativa de perceber o que se está a passar entre o Governo, isto é, o Ministro das Finanças e os bancos, isto é, o sistema financeiro (que hoje é muito mais do que só bancos). Mas o fundo está aí a chegar e a ser mais evidente. Por outras palavras, a conclusão de que o Governo e os bancos criaram um círculo vicioso de dependência, em que o Governo salva os bancos com dinheiro dos contribuintes, vindo directamente deles ou através dos juros pagos aos empréstimos da troika, que os bancos em troca compram os títulos do Estado (o que nos ajuda, mas não tanto), e que agora o Governo tem de criar condições para que os bancos no futuro se livrem desses títulos, é uma conclusão cada vez mais publicável (ver alguns posts anteriores a este). Tudo isto é negativo politicamente, uma vez que é uma mistura entre interesses privados e dívidas públicas, e ainda mais economicamente, pois o resultado é o Orçamento de 2013. Que esta interdependência tenha a conivência da troika, incluindo de um FMI sem coragem, e de um Presidente da Comissão Europeia sem peias, agrava a situação. Mas o pior ainda é que este "modelo" foi comprado por muita gente de fora do Ministério das Finanças e dos bancos, sendo difícil saber até onde vai tal sucesso de marketing. Bagão Félix, Medina Carreira, Ferreira Leite, muita gente, mas não toda, ligada ao PS, assim como, claro, o BE e o PCP, não são compradores. Mas a lista foi recentemente enriquecida com Paulo Portas. Quem mais se seguirá? Olhemos para o que farão nos próximos tempos as instituições da democracia, em Portugal, para perceber quem joga de que lado. No meio disto tudo, claro, há homens muito felizes.
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