Que um bom economista, que sabe de economia, fale de "bens não transaccionáveis", não faz mal. Ele sabe que a expressão não é mais do que uma forma simples de fazer uma distinção académica, rude mas algo útil, querendo-se dividir a economia em apenas dois sectores. E sabe que é um diminutivo, pois os bens (e serviços), na verdade, são todos transaccionáveis, isto é, passam pelo mercado. Os bens e serviços dentro das famílias e das empresas não passam pelo mercado, mas mesmo esses são "transaccionáveis". Por exemplo, numa fábrica de carros, os bancos vão de uma secção para a outra, não passando pelo mercado, mas não deixam de ser transaccionáveis, pois podem ser vendidos ou comprados lá fora. O que acontece é que há bens que não são transaccionáveis internacionalmente, isto é, são feitos a um custo superior ao do estrangeiro, estando, por exemplo, sob protecção regulamentar ou de elevados custos de transporte. E é disso que se deve falar, quando se fala de bens não transaccionáveis, aos quais se deve acrescentar o internacionalmente. Isto, entre economistas, é ensinar o padre-nosso ao vigário. Tudo bem. O pior é quando estes princípiso caem onde não devem cair. Veja-se este grande, como dizer?, desvio da racionalidade: "Adeus aos cursos de multimédia, informática, de marketing ou de animador sociocultural, que até agora tiveram forte presença na oferta do ensino profissional disponibilizada pelas escolas secundárias públicas. A partir do próximo ano lectivo, as áreas prioritárias de formação passarão a ser metalurgia e metalomecânica, electricidade e energia, electrónica e automação, tecnologia dos processos químicos, construção e reparação de veículos a motor, entre outras ligadas aos sectores de bens e serviços transaccionáveis ou geradores de emprego." É uma espécie de marxismo retro-moderno. Sim, faltava dizer isto: os marxistas é que também gostavam de dividir a economia entre "produção", isto é, agricultura e indústria, e tudo o resto, finanças, comércio, marketing (horror!), etc. Para eles, também, só a primeira é que contava. O grave é que há mais de 100 anos que separam esses dois disparates. Enfim, é o país que temos, numa fase pouco transaccionável. A carga ideológica de tudo isto é grande, obviamente. Mas ao menos não usem uma ciência que à partida desconhecem. Sejam corajosos e digam mesmo ao que vêm.
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