Francamente, não tive tempo antes, mas o assunto não podia morrer. Sobretudo depois de ver que a surpresa vem de outras partes, incluindo de um recente artigo do New York Times, onde o jornalista fica sem saber o que dizer quando o ministro das Finanças, à falta de melhor, cita George Washington em defesa da sua política financeira. Nessa entrevista, Gaspar não diz de onde virá o crescimento que permitirá a redução da dívida, concentrando-se apenas em elogiar a redução do défice - sem lembrar que o fez essencialmente com medidas temporárias, como a transferência das pensões dos bancos, ou anunciadas como tal (anúncio ainda não desmentido por quem tanto pugna pela honestidade financeira), como os cortes nas pensões e salários. De resto, diz apenas que o crescimento virá em 2014 e que será de 2% ao ano, e a gente aqui pode acreditar ou não. Mas na sua intervenção na LSE, há cerca de duas semanas e entretanto publicada em podcast, Vítor Gaspar foi mais longe na explicação das origens do futuro crescimento do país. A palestra durou cerca de meia hora, tendo sido seguida por quase uma hora de perguntas e respostas. As duas partes foram interessantes, embora a segunda mais, até porque a palestra seguiu uns slides que se compreendem bem e em menos tempo. Ao minuto 59, um certo Tomás, depois de elogiar o que o ministro tem feito pelo bom nome do país, colocou a pergunta crucial: "What are the pilars of growth for Portugal?". A resposta, dada aos minutos 70-75, foi muito elucidativa. Depois de refrasear a pergunta, Gaspar disse que a primeira fonte de crescimento será uma "normal cyclical recovery". Ou seja, isto vai abaixo e depois vem acima porque a economia passa a ter "lots of spare capacity". Pasme-se. Presume-se que quanto mais abaixo for, mais acima virá; e Passos deve estar com a esperança que essa "normal cyclical recovery" venha bem antes de 2015. Mas o ministro ainda deu mais ideias sobre de onde virá o crescimento. Segundo ele, modelos dinâmicos e “convencionais” de equilíbrio geral, aplicados a Portugal, mostram que a eliminação de "markups" (que é mais ou menos a distância entre preços ou salários de monopólio e de mercado) levarão a um crescimento do PIB potencial de 10%, em 10 anos, acrescentando, com entusiasmo, que metade desse crescimento virá nos 3 primeiros anos do "programa". E como chega a esses resultados? Simples, a partir do exemplo da Alemanha "no passado recente" e de estimativas dos tais "markups" para Itália. Belo! Ainda acrescentou algumas palavras sobre a "agenda de reforma estrutural" mas aí só disse que tem "esperança" que ela tenha impacto, pois não está no modelo (claro, nunca ninguém conseguiu medir tal coisa...). Entretanto, com um declínio acentuado da economia no último trimestre de 2011 e o desemprego a 14%, a primeira parte do programa parece estar a ser um grande êxito – que, seguramente, ainda crescerá. Aguardemos com expectativa os resultados da segunda parte do programa, a do modelo de equilíbrio geral que, felicidade, é "dinâmico e convencional". E alemão e italiano... Os riscos desta aventura são tão grandes que surpreende que ninguém consiga dizer ao ministro que mais se parece com marxismo do que com outra coisa qualquer.
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