A prática dos passos curtos continua e é uma sorte que esteja a ser seguida na boa direcção. O próximo passo para com a Grécia parece grande: um perdão de 75% da dívida e um financiamento adicional de 130 mil milhões é muito; mas não chega. A Grécia continuará com um défice primário (i.e., sem juros) de entre 3 e 4% do PIB, que precisa de ser financiado, e a economia prossegue em contracção. Assim, não consegue reduzir a dívida de 120% do PIB, nem aguenta os correspondentes encargos com os juros. Por outras palavras, não se libertará do financiamento externo tutelado, nem da austeridade, em prazo de vida útil. Será então necessário atingir um novo ponto de contestação social para que se dê o novo e maior passo?Segundo um número crescente de economistas normais (de norma), mas em postos não governamentais, o passo mais largo implicará três coisas: perdão total da dívida; garantia por uns anos de financiamento externo do défice primário, para não ser necessário aumentar a austeridade e permitir alguma política orçamental acomodatícia (calão para keynesianismo do século novo); e reformas do mercado de trabalho, dos produtos e dos serviços. É isso que é defendido, em entrevista ao Vox, por Willem Buiter - um economista holandês que pede também que os políticos do seu país e da Alemanha desçam dos cavalos para ver a realidade do campo. E Portugal? Na mesma entrevista de 15 minutos, Portugal tem direito a alguns segundos para se dizer que deve vir a seguir. As ilusões sobre o que deve ou não ser feito fazem parte da política, da política necessária, sobretudo quando conduzida com juízo, e são inescapáveis, que há muita negociação pelo caminho. Mas é preciso saber qual é o fim mais previsível. Preparemos por isso Portugal para voltar a ser a Grécia, daqui a uns meses. Entretanto, não era mau que, uma vez reformado o mercado laboral (não saberia onde pôr aspas aqui, tantas são as palavras candidatas), o governo se concentrasse agora na reforma dos mercados controlados pelos monopólios ou quase-monopólios, como pede hoje Pedro Santos Guerreiro e já pediu há uns dias Helena Garrido (o título deste artigo pode ser enganador, todavia). Quanto a isto, talvez o Dr. Eduardo Catroga (entre outros) queira dar uma ajuda ao país, a partir do lugar onde agora está.
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