Há uns dias quando percorria, num intervalo, os jornais portugueses, vi uma fotografia sorridente e dinâmica do nosso ministro das Finanças que acompanhava uma sua declaração dizendo que o ponto de viragem estava aí a chegar. Referia-se a alegria do ministro ao facto de os juros da dívida nacional terem baixado a seguir à descida na notação da Standard & Poor's. Pois, o mesmo aconteceu em França e em Espanha, só que a reacção lá não foi, pelo que vi, a mesma. Foi outra. Gaspar deve estar cansado de esperar, com verdadeiras dúvidas sobre o seu plano (quem não estaria?), e ansioso por boas notícias. Tal como aconteceu vezes sem conta com outros ministros desta nossa ditosa pátria. Mas também acontece que os juros não caíram por os "mercados" estarem a acreditar no governo português. Eles caíram porque Mario Draghi está, aparentemente, a mudar a política do BCE, precisamente na direcção oposta àquela em que Gaspar apostaria: dando dinheiro quase de graça aos bancos europeus que, por sua vez, estão, sob "pressão moral", a comprar dívida pública nacional, em Portugal, em Espanha, em Itália, em França, baixando assim o preço desta. A solução vai sair daí - e não de mais uma cimeira europeia, que não deixam por isso de ser importantes, ou de um plano genial nacional - silenciosa, pela calada, apenas detectável pelos futuros historiadores económicos. Ou não, que ainda é cedo para lavar os cestos. A ironia do destino é que o plano do ministro das Finanças português pode vir a ser salvo, ou a não causar tantos estragos - embora eu duvide -, pelos efeitos directos de medidas de política monetária que ele, explicitamente, já renegou.
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