Que seja um empresário silencioso a fazê-lo, aconselhado por zelosos fiscalistas e advogados, ok, não faz tanto mal. Agora, que seja alguém com intervenção pública sempre de teor moralizador, acho mal. E também estiverem mal alguns jornalistas ontem. Enfim. Nos Países Baixos os impostos não são mais baixos do que em Portugal. Ao contrário, são mais altos. Lá, como na demais civilização do norte do continente europeu que inventou o crescimento económico há 300 anos, o Estado é social, equilibrado e competitivo. Mas fazem uma coisa que aleija os governos incautos - ou nabos - como o português. E fazem isso porque os ricos sabem que têm de pagar mais do que os pobres. O quê? Simples, têm elevados impostos sobre os rendimentos, altamente progressivos, e baixos impostos sobre os capitais. O que Soares dos Santos vai fazer é pagar os impostos onde eles são mais baixos. O IRS aqui, no Marrocos de cima, e o IRC lá, na terra da justiça fiscal. É legal? É. É moralmente correcto? Mais ou menos. Devia este homem com intervenção pública fazê-lo? Não. Há alguma coisa a fazer? Há. Seguramente que há. Uma vez que as estruturas fiscais na UE não são harmonizadas, os governos têm competência para encontrar mecanismos para evitar estas engenharias fiscais - ou estou errado? Mas como isso não é uma "profunda mudança estrutural", mas apenas um singelo acto de governação, ninguém liga.
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