O governo na Europa, desde há algum tempo, é uma espécie de lego. Portugal teve uma ditadura e apanhou esse comboio um pouco a andar. Mas apanhou. E por cá também se brincou: mais uma ponte Vasco da Gama aqui, muda este Relatório Porter (Mira Amaral) para ali, olha que bem que ficam estas eólicas acolá. Mas este novo governo, que não brincou ao lego em pequeno e pensava que era uma coisa cheia de gordura, chegou, pegou na boneca da irmã que tinha à mão (a troika) e arrasou com o lego. Ou, pelo menos, está a tentar arrasar. É muito provável que Passos Coelho se venha a arrepender, pois ele - e os seus ministros - já começaram a ver como se brinca. Já foi a uma inauguração da PT que nada tinha a ver com ele (mas foi bom em publicidade para os dois lados); e Santos Pereira já anunciou um bilião de euros para umas minas (e as televisões prontamente mostraram um buraco na terra) e uma data de benefícios para a prospecção de gás no Algarve (e as televisões mostraram umas belas imagens da respectiva costa). Todavia, enquanto não chegar ao apuro de brincadeira do anterior governo, pode fazer grandes danos. E há sinais que mostram quão grande este disparate pode ser. Não é João Ferreira do Amaral ("a prioridade do governo é baixar os salários não baixar o défice") ou Pedro Adão e Silva (citando Cavaco Silva, "ajustamentos baseados numa trajectória recessiva são insustentáveis") que quero citar. É, sobretudo, e isso é que é alarmante, para mim, Nicolau Santos, mais uma vez ("se resultar dêem o Nobel a Gaspar") (e também Fernando Madrinha ou Ricardo Costa?). Isto pode ser sério, muito sério mesmo. Mas, para perceber o fundo da questão, é preciso saber como chegámos aqui.
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