A ideia de que estamos a pagar agora os erros dos últimos trinta anos é que é o erro dos últimos trinta anos. Ou, pelo menos, um forte candidato. Portugal "sempre" precisou de financiamento externo. Aliás, as economias convergentes "sempre" precisam de financiamento externo. E porquê? Bem, por causa dos mercados. Se são convergentes, têm níveis de produtividade mais baixos e potenciais ganhos de produtividades mais altos. Se estão abaixo da média, cada unidade de capital que se acrescenta tem ganhos maiores do que as anteriores. É essa a definição de "convergente". Nesse caso, o capital rende mais e paga mais e por isso vem de fora. E a isso acrescem os movimentos autónomos de capitais, por exemplo, as remessas de emigrantes. Bem, mas se a teoria não se entender muito bem, entenda-se o que a história mostra, e foi isto, mais ou menos, que entrou, para colmatar os défices externos:
- 1870-1890: capital estrangeiro (para caminhos-de-ferro, mas não só) + remessas de emigrantes no Brasil;
- 1890-1910: as mesmas remessas + rendimentos das exportações das colónias;
- 1920s: ainda as remessas(?) + repatriação de capitais nacionais por causa da estabilização cambial (antes de Salazar);
- 1950s-1974: remessas de emigrantes na Europa + capital estrangeiro. Sim, foram as fontes dos equilíbrios de Salzar (e não outra coisa, como este governo acreditará);
- algures nos anos 1980 até 1990: capital estrangeiro e Fundos Estruturais (e algumas remessas).
Estas entradas de capital estrangeiro, sob diferentes formas, representaram valores entre 5 e 10% do PIB, tal como nestes anos que antecederam a crise. Isto mais ou menos que não fui ver os números. A torneira agora fechou, mas isso não quer dizer que não volte a abrir. Como já fechou e abriu anteriormente. Agir como se estivéssemos no fim do mundo, isto é, olhando só para as contas, não é digno de um governo europeu. Mas, pronto, o que interessa são as eleições e eles mesmo fazendo disparates vão aguentar-se e estar lá quando a recuperação vier e vão colher os frutos. Tal como Salazar estava lá e colheu os frutos quando teve a sorte de ver as contas externas melhorarem. E Nuno Valério, que foi um dos primeiros a estragar o mito, bem recorda num artigo do "Público".
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