É um pouco imoral o que se anda a dizer sobre a subida do salário mínimo. Imoral por uma razão. Trata-se de uma medida de justiça, todos com isso concordam, mas, depois, há umas pessoas que vêm perguntar, será que a economia aguenta? A ideia de que o salário mínimo tem efeitos negativos na competitividade das empresas, nos países da liga dos mais desenvolvidos como é Portugal, é uma ideia tão boa como dizer que a limitação do trabalho a 8 horas por dia impede que os países cresçam. No meu livro de escola de macroeconomia vinha lá isso, mas vinha lá isso como exemplo de raciocínio sobre o funcionamento dos mercados. Ponto. Não se pode ser comentador de economia com base em duas folhas de livros de macroeconomia. Há mais coisas para ler, para se andar informado. Há, por exemplo, mais isto: Ana Rute Cardoso, "Long-term Impact of youth minimum wages: evidence from two decades of individual longitudinal data" (2009) "This paper quantifies the long-run impact of exposure to youth minimum wages and sheds light on its mechanisms. It uses remarkable longitudinal data spanning for twenty years and explores legislative changes that define groups of teenagers exposed for different durations. After controlling for the contemporaneous impact of the minimum wage, its long-run impact translates into: an overall wage premium, consistent with an upgrading in the quality of jobs offered; a flatter tenure-earnings profile, consistent with lower initial investment in firm-specific training. Interestingly, the overall wage premium increases with exposure and the tenure-earnings profile is flatter the longer the exposure". E o isto revela dois impactos positivos do salário mínimo: para as pessoas, a quem são oferecidos melhores trabalhos, e para as empresas, que poupam na formação. Nem tudo será cor-de-rosa mas há sempre mais de dois lados para a mesma moeda. A macroeconomia simples não ensina quais, mas ensina pelo menos a procurá-los, em querendo, como diz o salário mínimo.
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