Há uns tempos prometi (a mim mesmo) falar menos de políticas públicas e mais de inovação(1). Isso porque pensava que ia ter tempo para me dedicar a uma coisa relacionada e depois não consegui. Mas fiquei com essa na cabeça e tenho pensado um pouco nisso. No outro dia pensei ainda mais depois de ler um post em que o meu amigo Miguel Maduro lembra como Florença se mantém sempre na mesma(2). E isso é verdade. Em muitos locais se podem ver vistas da cidade muito parecidas com os quadros em que ela aparece nos séculos XV e XVI. Ora, é verdade que é a mesma, mas também é verdade que não é. Mas só que aqui o que muda vê-se pouco. E não só aqui, mas em toda a Europa desenvolvida. Porquê? Porque, simplesmente, o que muda é muito fruto da inovação e há menos mudança fruto de investimentos físicos, brutos. Há sempre as duas coisas, pois uma não vive sem a outra, mas o caldo é favorável à inovação e não ao investimento em capital físico, em infra-estruturas visíveis. Robert Solow um dia disse que se podiam ver computadores em todo o lado, excepto nas estatísticas da produtividade(3). Há muita outra inovação que se vê nas estatísticas mas não no dia-a-dia. Todavia, podemos encontrar pequenos sinais, desde a forma como os pagamentos são feitos por um cartão especial nas cantinas universitárias, aos postos de carregamento eléctrico das motorizadas, ao uso generalizado da internet, às técnicas de restauro. Tudo coisas que também há em países europeus menos desenvolvidos, mas que há mais em regiões mais ricas como a Itália do norte. Entre 1865 e 1871, antes da conquista de Roma pelos liberais, Florença foi a capital de Itália. Nesses anos, levou uma transformção enorme, inclusivamente com custos artísticos graves. Por exemplo, quase toda a muralha medieval foi substituída por largas avenidas em torno da cidade. Uma parte do centro histórico, não muito grande uma vez que ele é grande, foi substituída por um quarteirão. Há lá um arco que diz: L'ANTICO CENTRO DELLA CITTÀ: DA SECOLARE SQUALLORE A VITA NUOVA RESTITUITO. Enfim, uma reviravolta modernista e bem intencionada. Porque é que hoje se vê mais inovação em Florença e no norte de Itália do que na periferia da Europa, e não tanto investimento em cimento? Porque o investimento em cimento (e pedra) foi feito há mais tempo, durando, durando até aos dias de hoje. Tudo isto está um pouco dito em caricatura, mas é mesmo assim. Voltarei ao assunto que este post não chegou para me tirar a questão da inovação do pensamento.
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