Há algum tempo que tenho andado a seguir de perto o argumentário da "esquerda-máxima", como gostam de se designar, lendo o blog Ladrões de Bicicletas. Motivava-me o facto de estar um pouco preocupado com a ideia de que essas ideias - muitas delas muito erradas - chegassem ao poder. Mas ontem tive uma epifania. Então não sou daqueles que acham que quando as coisas acontecem é porque devem acontecer? Terei deixado de ser um liberal? Acho que não, não deixei, o que significa que não devo estar preocupado com esse cenário da esquerda no poder. Se a mão de algum anjo os levar ao poder, haverá outras mãos que lhes trarão os necessários cuidados para o exercerem. Todavia, continua de pé a necessidade de termos um pouco de mais de verdade no argumentário e aqui deixo uma provocação que não carece de resposta. Porque é que esses nossos amigos se preocupam tanto com a actual crise, quando têm uma muito melhor com que se preocupar? Qual? A maior crise desde 1929, que foi a que afectou as economias da Europa central, da Rússia e dos seus antigos satélites, a seguir a 1989. Aí, sim, houve reduções do PIB da ordem dos 30 a 40%, no espaço de uma década. Nada disso ainda aconteceu com a crise de agora e ainda estamos muito longe. Aquela gigantesca crise diz-nos o quê? Que afinal as crises não são só "capitalistas"? Ou diz ainda mais coisas? A seguir a 1989 também os arautos da "direita-máxima" diziam que tinha acabado a História e que passara a haver apenas um paradigma. Estavam errados, como sabemos. Quem está entretido com o mesmo exercício, agora, à esquerda, corre também risco de errar e muito. Por isso sejam menos radicais nas vossas apreciações. E, já agora, preparem um terreno mais moderado pois ainda podem ter de o percorrer na caminhada para o poder.
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