Fiquei com a sensação que devia acrescentar algo ao post anterior a este e, para facilitar a exposição, ainda num tom pessoal. Faço isso em prol das 2 ou 3 pessoas que possam eventualmente beneficiar da experiência em causa. As polémicas em que me envolvi no início da carreira eram de carácter doméstico, no sentido em que se tratava de analisar coisas que autores portugueses tinham dito sobre o passado da economia nacional. Todavia, a partir de uma certa altura, apercebi-me que esse exercício teria pouca importância a nível internacional, pois das nossas polémicas lá fora pouco se ouve ou escreve. Assim, quando fiz a minha tese de doutoramento em Florença sobre crescimento económico português e comércio externo (publicada em livro), rapidamente me apercebi que o meu ponto de partida tinha de ser outro. Ninguém se interessaria seguramente por saber que a tese da dependência não se aplicava a Portugal - aliás já havia consenso de que ela se não aplicava a lado nenhum. A alternativa foi ir buscar modelos ou hipóteses à teoria económica e ao que se dizia sobre o desenvolvimento ou atraso na periferia europeia. Quase não há polémicas na história económica portuguesa do período contemporâneo que interessem ao Mundo. Por isso, as polémicas domésticas sobre assuntos domésticos devem ser evitadas, regra geral, como instrumento de investigação e análise históricas. A grande excepção, talvez, são as polémicas em torno do impacto económico da perda do Império do Brasil, uma vez que é um caso entre outros de fim de império. O que acima se diz liga-se, mais uma vez, com polémicas actuais e, em particular, com a que gira em torno das infraestrturas. Dou alvíssaras (enfim, virtuais) a quem encontrar um debate semelhante ao nosso no estrangeiro. Isto é, há seguramente um debate lá fora sobre o impacto das infraestruturas e sobre a necessidade de avaliar correctamente as respectivas rentabilidades económicas ou sociais (o social aqui é maior do que o económico, se me faço entender). Mas haverá verdadeiramente um debate sobre a especificidade de investimentos desse tipo em países como Portugal? Isto é, há gente a escrever que sim TGV mas não para Portugal? Francamente, duvido. Portugal é um país atrasado e pobre na Europa. Mas é um país europeu pertencente a um espaço económico determinado e contínuo. Olhemos de vez em quando cá para dentro a partir de lá de fora. Não custa mesmo nada.
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