Este fim-de-semana, li despreocupadamente um artigo de Vasco Pulido Valente no Público em que comentava um outro de cinco economistas liderados por Joaquim Ferreira do Amaral (como sempre por arcaísmo do jornal os artigos não podem ser ligados aqui). Quando li a prosa de Pulido Valente, pensei logo: afinal pode-se não ser economista e perceber de Economia. Basta ser-se cientista social e, talvez, inteligente. Pois, agora estava distraído nos blogs e encontrei este texto criticando o colunista. Devo prosseguir com a ressalva de que vou escrever com o habitual respeito pelos intervenientes. Ora bem, os críticos de Pulido Valente ficaram zangados porque este disse que “toda a economia é profundamente insensível e vive de abstracções sem prova empírica e deduções lógico-matemáticas”. Isto está um pouco exagerado, uma vez que há parte da teoria económica que deriva da observação e outra parte pode ser testada, mas está fundamentalmente certo. Pelo menos muito mais certo do que dizer que Pulido Valente “ignora a economia política institucionaliza ou a economia pós-keynesiana e desconhece que estas tradições levam a cabo um trabalho académico em que o económico é indissociável do político, do moral e do institucional”. Isto sim está errado, para além de ser contraditório. Em primeiro lugar, Economia política não é Economia, é outra coisa. Em segundo lugar, se a teoria económica não vive de abstracções, isso deve-se ao facto de se poderem testar os pressupostos e as deduções teóricas. Ora esses testes só podem ter uma forma, a de modelos quantitativos, com variáveis exógenas e endógenas. Acontece que o político, o moral e o institucional não são de factos quantificáveis ou, se o são, são de forma muito sensível a erros de observação e de definição o que torna os mesmos testes pouco científicos. A Economia não é ciência e não é mesmo mas, isso, todos sabemos. É uma ciência social. E dizem ainda os mesmos economistas críticos do blog: “existem critérios que permitem distinguir a boa da má ciência, a boa da má teoria. Esta distinção é importante porque os remédios, que apesar de tudo são prescritos, procuram apoiar-se em argumentos considerados razoáveis à luz do conhecimento, sempre falível, vigente”. Como se comprova que uma teoria económica é boa sem quantificação? E como se quantifica o inqualificável? Alguém sabe? Houve quem o tivesse tentado ao longo de longas oito décadas mas não conseguiu mesmo assim. Houve uma coisa grave no mesmo post, que nada tem a ver com o artigo original comentado por Pulido Valente, e que deve ser aqui referida. Trata-se da afirmação que diz “estranha-se que VPV, investigador-coordenador de um laboratório associado do Estado na área das ciências sociais, considere que a economia não é «ciência» porque caso o fosse «não haveria agora crise (ou haveria uma crise com um remédio prescrito e infalível)». O que diz é fundamentalmente correcto, mais uma vez. Se a Economia fosse ciência só haveria crises porque os homens são maus e não haveria países pobres a não ser por perversão humana. Mas o que é que a posição institucional do investigador tem que ver com o assunto? E o facto de ser pago por um não-sei-quantas do Estado é para aqui chamado? Estamos com controlos de ortodoxia? Deve ele ser punido? Então punam-me também, nesta minha insignificância, pois concordo mais com o historiador do que com os economistas que o criticaram.
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