A ´"América" é de facto um mundo interessante. Não é que uma lei emanada por um governo republicano leva com a oposição de mais senadores e congressistas republicanos do que democratas? E não é que a lei foi adoptada com carinho pelos democratas e por eles transformada? Claro que provavelmente a lei chegou draconiana ao legislador para lhe dar espaço de manobra. Mas a verdade é que os democratas a melhoraram. Afinal já não haverá pára-quedas dourados para os administradores das contas agora compradas; o dinheiro será gasto sob maior controlo; e, caso os proveitos das vendas futuras dos activos sejam menores do que o preço de compra, o saldo negativo será taxado ao sistema financeiro. Muito bem. Bernanke é um republicano, mas um republicano especial. Pelos vistos não gostam muito dele no partido. Mas ele fez o que fez ou, pelo menos, impulsionou esta solução, porventura porque sabia que a alternativa era pior. Mas se ele não estivesse no Fed? Se ainda fosse Greenspan? Ou se isto tivesse sido há dois anos, quando Bush ainda mandava alguma coisa? Teria a história sido muito diferente? Não sabemos. Sabemos, todavia, que Greenspan não tem grandes culpas na situação a que se chegou. Os democratas dizem agora que a culpa é da fraca regulação sob a égide de Greenspan e dos republicanos mais à direita. Mas a culpa do que aconteceu é mais profunda e tem a ver com a recente história económica da globalização. Há transformações demasiadamente profundas para serem reguladas. Por duas razões: se fossem reguladas, porventura não teriam acontecido; e a regulação não pode chegar a todo lado, neste caso às enormes exportações de capitais dos BRIC e do petróleo, que alimentaram o crédito barato nos EUA. Nem à guerra do Iraque que alimentou o enorme défice norte-americano, etc. etc.
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