Todos estamos um pouco baralhados e sem bem saber o que dizer sobre o que se está a passar. Incluindo os melhores. Por acaso os acontecimentos de ontem e hoje fizeram-me estar um pouco mais de acordo comigo mesmo. Mas amanhã logo saberei, para depois me voltar a enganar. Mas por favor não chamem ao que se está a passar keynesianismo, pois isso mostra não um mas dois desvios da realidade: o da presente e o do que é o keynesianismo. Aquilo que se está a passar tem que ver com uma gestão da crise. No futuro, quando isto for história económica, uma interpretação possível será que os governos dos países desenvolvidos deixaram isto ir tão longe porque achavam (sabiam?) que tinham alguns mecanismos de controle. Incluindo a compra de activos ou o aumento da oferta monetária. Coisas a que os tempos keynesianos não tinham acesso. Porquê? Não pela dimensão dos movimentos financeiros, isto é, não porque nos anos, digamos, 1960, os Estados fossem em comparação com os dias de hoje mais fracos do que os bancos (não o eram, ao contrário), mas porque nos tempos keynesianos não havia possibilidade de cooperação internacional, como há hoje. Se tudo correr bem, essa cooperação será umas das vencedoras dos louros. A outra será a enorme disponibilidade dos governos em injectar fundos. A pata feia será a fraca regulação. O keynesianismo acreditava em coisas que hoje se sabem erradas. A teoria económica, apesar de tudo, avança. Assim como a prática. Não simplifiquemos portanto a análise. Força camarada Bush! Pena que na Comissão Europeia não haja ninguém sem complexos de keynesianismo. Que não haja acção, tudo bem, que por lá pouco há que se possa fazer. Mas umas palavritas de compreensão por parte de José Manuel Barroso seriam bem-vindas. Tenha menos medo de Trichet, homem! Ou concorde menos com ele - e com os que o levaram, quando Primeiro-ministro português, a fazer o "discurso da tanga". Quanto à Suécia, lembra bem Paul Krugman que, nos anos 1990, o governo gastou 4% do PIB para resolver, com enorme e internacionalmente reconhecido sucesso, uma crise muito parecida, embora local. E sem keynesianismo ou socialismo.
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