O Jornal de Negócios e a Antena 1 fizeram uma estimativa dos custos e benefícios dos investimentos em infraestruturas previstos por este governo. Esse trabalho é muito importante, até porque já se começa a perceber que os investimentos serão para avançar. O PSD já começou a dar mostras de recuar na sua contestação e os sinais vindos de outros sectores, como é o caso do governador do Banco de Portugal, são agora também mais positivos. A análise em causa não está acessível na Internet mas Pedro Santos Guerreiro, director do JN, resume bem as conclusões, quanto à rentabilidade do TGV Lisboa-Madrid, na seguinte frase: "Seria preciso que todos os 8,3 milhões de portugueses que têm mais de 14 anos fossem a Madrid para pagar os custos de operação (de operação!) do TGV que une as capitais ibéricas." Acrescenta que a avaliação financeira não deve ser a única, havendo outras, mas por agora vejamos esta. A rentabilidade da ligação Lisboa-Madrid é um problema enorme e o debate que está em cima da mesa tem toda razão de ser pois são valores altos. É uma decisão crucial que tem de ser bem ponderada. Note-se que os custos são de tal ordem que a discussão assenta sobre a rentabilidade da operação e não do investimento total. É por isso, aliás, que a UE, na sua ainda existente generosidade com os mais pobres, garante 20% dos investimentos, a fundo perdido. A estimativa de benefícios do JN é mais limitada do que a do Governo, pois este inclui benefícios indirectos vários, mas isso agora não interessa, para podermos avançar (façamos o velho truque de avançar com hipóteses desfavoráveis às nossas conclusões). Segundo refere Pedro Santos Guerreiro, seriam necessários 8,3 milhões de passageiros por ano para que a operação do TGV Lisboa-Madrid fosse rentável (não vi qual a taxa de rentabilidade presumida mas deve ser um pouco acima de 4%). Ora, o que significa este número? Será que a melhor comparação é com o número de habitantes em Portugal? Talvez não. Sugiro uma outra comparação, a saber, com o número de passageiros da linha do AVE entre Madrid e Sevilha. É preciso olhar para Portugal e para estas ligações na perspectiva mais ampla da necessária e inevitável maior integração do país no espaço ibérico. O AVE entre Madrid e Sevilha foi uma decisão política de um governo (socialista, porventura não por acaso) altamente contestada. Felipe González, o principal responsável, queria e apostou na região de onde é natural, a Andaluzia, e isso custou-lhe muitas críticas. O AVE fez parte do pacote da Exposição de 1992 e esta foi, e ainda é, um grande desastre. Mas a ligação venceu e é um êxito. E quantos passageiros teve, nestes 15 anos? Teve quase 45 milhões, o que significa 3 milhões de passageiros por ano, sendo que esse número tem vindo a aumentar. Para além disso, a linha teve outros 36 milhões de passageiros em comboios que não de alta velocidade. Ora o que significa esta comparação? Sevilha tem 700 mil habitantes e a área metropolitana tem 1.450 mil, cerca de metade das de Lisboa. A área de Lisboa tem um PIB per capita equivalente a 105,8% da média da UE e a Andaluzia 77,6% (dados de 2004). Estas comparações são importantes, porventura as mais importantes. Se Lisboa, que se bate com Barcelona como a segunda cidade ibérica, não consegue competir com Sevilha, que é a quinta ou sexta cidade, então mais vale fechar as portas. Estamos aqui um pouco a trabalhar com contas feitas em cima dos joelhos e pouco mais posso fazer (mesmo que quisesse). Mas são estes os números em que podemos pensar e isso já é bom, e em boa hora foi feito o trabalho do JN e Antena 1. Chegados aqui, a discussão deve agora ir mais longe, não apenas no sentido de considerar os benefícios indirectos das contas oficiais, mas também no sentido de uma discussão mais ampla da necessidade de uma maior integração da economia portuguesa no espaço ibérico.
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