Hoje vi dois contributos importantes para o debate sobre os investimentos em infraestruturas de transportes. O primeiro foi da autoria de Pedro Braz Teixeira que começou num comentário no Geração de 60 e continuou no seu blog Abelhudo. Algures por entre essas linhas exponho uma opinião ou outra. O segundo foi o bem informado artigo de Avelino de Jesus no "Jornal de Negócios" de hoje. Estas intervenções juntam-se ao excelente trabalho que o "Jornal de Negócios" fez sobre o assunto e que comento mais abaixo. Avelino de Jesus teve o trabalho de comparar o número de quilómetros de auto-estradas nos países OCDE, tendo em conta a população, a área, o peso relativo no total das rodovias, e o PIB (ver tabela no fim do artigo). E conclui que Portugal tem auto-estradas a mais. O trabalho merece ser lido com atenção e há uma conclusão forte a que chega: Portugal está a chegar ao fim na construção de auto-estradas. Falta pouco. Mas o problema é que nestas coisas de redes, o pouco que falta faz muita falta. Não se pode construir meia auto-estrada. Ou se liga Bragança com o Porto e Lisboa ou não se liga. Quanto à importância da distância nos negócios em Portugal, ver do mesmo autor este contributo. Mas há uma conclusão fraca, a saber, a de que temos auto-estradas a mais. Essa conclusão é fraca, quanto a mim, por duas coisas. A primeira é que são contadas apenas auto-estradas e não estradas de via rápida. Estas são inexistentes em Portugal e comuns na Europa desenvolvida. A segunda decorre de uma olhadela ao mapa das auto-estradas da Europa, onde se vê nitidamente como o interior do país ainda está fora dessa rede, e que a densidade está muito longe do que acontece no resto da Europa ocidental. Mas é um artigo muito importante, com dados muito importantes e a conclusão forte acima mencionada é de reter. Não podemos cair novamente num extremo, como se caiu há uns anos no seu contrário. Na altura de Cavaco Silva, escrevia eu e poucos outros que, atenção, auto-estradas não chegam para modernizar. Agora, tenho de escrever o contrário pois está tudo a dizer que, de mais estradas, nada. A virtude está onde sempre esteve e as coisas não são preto ou branco, nem mutuamente exclusivas. Pode haver ao mesmo tempo mais estradas, mais educação, mais tecnologia, mais justiça, etc., etc. Aliás, deve haver.
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