Estou preocupado, confesso que estou preocupado com as declarações do governador do Banco de Portugal feitas hoje na Assembleia da República. E estou preocupado porque estou sem armas para as interpretar. Já tentei várias frentes de interpretação sobre declarações passadas e continuo a ser surpreendido. Será que sou tão ignorante que não sei que os governadores de outros bancos centrais europeus também falam assim? Alguém pode ajudar? Mas será que é uma posição institucional para se dizer que esta pode ser a pior crise desde o fim da segunda Guerra Mundial, com taxas de crescimento em Portugal acima de 1%, mesmo depois da revisão em baixa? Será que se pode dizer isso quando ainda não se sabe se a economia espanhola vai mesmo ter uma aterragem dura ou apenas suave? E será que é posição para se dizer que é preciso considerar todas as alternativas energéticas, mesmo a do nuclear? O que sei é que há um debate em aberto na Europa do Euro, embora bastante silencioso, sobre a necessidade ou não de aligeirar a política orçamental. E estas declarações parecem passar ao lado disso. Será que é essa a mensagem? - Meus amigos tenhamos cuidado, muito cuidado e não façamos nada de errado. Claro aligeirar a política orçamental precisa de ter em consideração o necessário combate à inflação, pois o pior que nos podia acontecer mesmo era o regresso da estagflação dos anos 1970 - essa sim a pior crise deste meio século. Portugal tem uma inflação baixa na zona Euro e, apesar de ter subido nos últimos dois meses, a previsão é de abrandamento em 2009. Não sei bem qual o resultado do debate no resto da Europa, mas Portugal definitivamente precisa de tratamento especial sendo como é simultaneamente um dos países e uma das regiões mais pobres da Europa. Algum aligeiramento fiscal é possível. Isso não é cair no socialismo, mas sim sair do radicalismo financeiro. Haverá contrariedades em abrir os cordões à bolsa, mas alguma coisa tem de ser feita e alguma coisa pode ser feita. Ninguém tem o segredo do milagre, mas muitos em volta de uma mesa conseguiriam chegar a algumas medidas. Talvez a opinião pública se devesse tornar mais favorável a uma governação europeia menos restritiva. Mas a opinião pública sensata, não a que anda aos gritos na rua a pedir o Carmo e a Trindade.
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