Tomei nota de um texto de José Reis, prestigiado economista da Universidade de Coimbra através deste bom blog. E fui ler. Fiquei espantado não apenas pelo conteúdo do texto, mas também por o mesmo ter sido tão prontamente aceite. Tantos mitos, tanta confusão sobre o que se passou. Veja-se isto: "Como se sabe, foi nos anos sessenta que [se deu em Portugal] uma industrialização intensa, criando uma infra-estrutura de capacidades industriais assinaláveis, nos domínios das indústrias básicas e pesadas (siderurgia, química, cimentos, construção naval). Esse crescimento intenso do produto interno – uma fase de rápida, embora localizada, modernização de alguns sectores da economia – foi sobretudo o resultado directo de um investimento intensivo em capital, gerando desta forma uma alteração drástica na “função de produção”, mas não originando uma modernização do conjunto da sociedade. Não assistimos a um alargamento dos mercados de trabalho, nem da qualificação das pessoas, nem do seu bem-estar." E contraponha-se o seguinte:
1) crescimento anual médio da força de trabalho, 1947-1973: 0,70%;
2) crescimento médio anual de um indicador de capital humano, 1947-1973: 2,47%;
3) crescimento anual médio da produtividade total da economia (TFP), 1947-1973: 1,53%;
4) crescimento do PIB per capita, 1947-1973: 5,03%. E diz ainda o mesmo autor: "a internacionalização da economia se fez primeiro e mais intensamente pela exportação de mão-de-obra do que pela exportação de produtos ou serviços". Todavia,
5) Peso das exportações no PIB: 1960: 17%; 1973: 30%.
Estes dados podem ser vistos aqui.
É certo que o debate sobre as causas e consequências do forte crescimento económico em Portugal, entre sensivelmente 1950 e 1973, estará sempre aberto. Todavia, é certo também que a economia sofreu uma profunda transformação, de que todos beneficiaram. Essa transformação acarretou problemas de vária ordem e não resolveu muitos outros, mas ela foi de facto enorme. Dizer isso não é "despudor" nem se "esquece a ditadura, a falta de democracia e também a falta de democracia económica". Essas faltas são graves também sob crescimento económico. Aliás, são ainda mais graves. Por isso mesmo foram ultrapassadas. Em 1974, claro.
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